É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo.
Não consigo dormir..constatei que me acostumei tanto ao fato de ter vc a meu lado que a cama me parece um deserto vazio,porque vc não esta nela, segurando minha mão tiritando de frio, sussurrando boa noite ao meu ouvido.Não dá pra ficar mais algumas horas sem te ver, então eu vou a seu encontro.
Quando eu vejo a Chloé andando em minha direção, percebo claramente nosso impasse. Percebo que esse jeito seu de me olhar me mostra o quanto gosta de mim, mas também demonstra não saber a maneira ou o tempo correto disso acontecer. E eu percebo observando seu corpo andar em minha direção em um ciclo preguiçoso, a coisa que mais me dói:
Eu te desejo profundamente. Tanto que dói respirar por um momento. E pior: sei que te ter não vai aplacar isso totalmente, já que fomes intensas quase sempre levam a uma hiperalimentação. Ter você agora poderia me matar.
Eu preciso de me desviar, porque estamos em rota de colisão. Vou ter que sobrevoar outras paragens, lugares onde realmente não queria estar, mas que são mais seguros. E você não sabe o quanto detesto isso, o quanto essa covardia me desanima.
O quanto beijar alguém que não seja você me deixa incompleto.
Mas simplesmente não posso ter uma cicatriz desse tamanho, nem quero perder antes de ganhar. È como se eu tivesse que asfaltar uma estrada antes de poder andar nela, e me parece que isso seja a coisa mais chata do mundo. Queria saber o que fazer agora.
Eu queria saber, realmente eu queria saber...Te ver como uma fotografia em minha memória, como um nome em meus recortes. Queria realmente entender o que sinto, e não ficar tateando dentro de mim, procurando algum alto-relevo em minha alma que explicasse o que quero de nós dois.
Queria poder te dizer o que sinto, mas se não consigo nem me explicar que enrascada toda é essa...
Tornar a te ver é como nunca ter deixado de te ver. Ter você na minha cama é como sempre ter te tido aqui do meu lado.
Mas não é. Não é mesmo. Dizem que as águas de um rio passam pra nunca mais voltar. Se destinam a novos rios, desembocam no mar. Caem como chuva molhando nossos cabelos em dias que nos pegam desprevenidos.
Isso me deixa com um pouco mais de tranquilidade. Significa que se tudo passou mesmo, pelo menos guardamos pedaços, lembranças, ensopados de chuva, mergulhados no mar.
Significa, que mesmo que você vá embora, guardei um pedaço do que ficou, e posso velejar com mais tranquilidade, pra me completar.
Não sei o que sinto. Mas sei que sinto, a mesma dor que você e isso não pode ser tão ruim assim.Um dia essa loucura vai ter de passar.